É fácil imaginar que para se fazer experimentos num curso de ciências, especialmente no Ensino Médio, é necessário se ter um laboratório bem equipado. E sem dúvida isso é desejável e algo que vale a pena ser batalhado. Após se fazer um curso na graduação e utilizar vidrarias de laboratório e equipamentos mais sofisticados, é natural que se pense que esse é o padrão a ser alcançado. Mas, na minha opinião, não devemos desprezar a possibilidade de se fazer experimentos com materiais simples, por vários motivos.
Em primeiro lugar, devemos pensar qual é o objetivo do experimento didático que está sendo realizado. No caso do curso de graduação, muitas vezes os experimentos realizados têm como objetivo, além de se compreender o fenômeno estudado, fazer com que o aluno adquira uma série de técnicas de manipulação que são importantes para um futuro profissional naquela área. Pensando na natureza mais ampla de um curso no Ensino Médio, com certeza o foco na técnica precisa de como se mede ou transfere um líquido, por exemplo, não é tão importante.
Outro motivo para se improvisar, especialmente em situações em que o aluno está participando da elaboração do próprio procedimento do experimento e explorando o que acontece, é que isso permite que o aluno desenvolva um monte de habilidades na resolução de problemas que certamente vão surgir no meio do caminho, e que são habilidades úteis para toda a vida, não importa em qual área ele vá atuar no futuro.
E por fim, permitir que o aluno faça experimentos com materiais simples em casa libera tempo das aulas presenciais e, no caso de atividades realizadas à distância, acaba sendo uma maneira dele observar os fenômenos de perto, sem a necessidade de assistir a um vídeo.
Neste artigo vamos falar sobre como utilizar um smartphone para fazer experimentos, coletar dados compartilhá-los usando o aplicativo Google Science Journal.
LABORATÓRIO NO BOLSO
Existem muitas maneiras de se utilizar um telefone celular para fazer experimentos. Nós já publicamos artigos mostrando como se montar adaptadores que transformam um smartphone em um microscópio ou um espectroscópio para se analisar a luz. Essas montagens utilizam a câmera do telefone, que permite a obtenção de fotos e a gravação de vídeos. Mas os telefones modernos não possuem apenas uma câmera, mas uma variedade de sensores que podem ser utilizados para se fazer experimentos.
Muitos aplicativos dão acesso aos sensores do celular, permitindo que você veja os valores que eles estão constantemente medindo e passando para o telefone. O aplicativo que vamos olhar mais a fundo, o Google Science Journal tem a enorme vantagem de ter sido desenvolvido especialmente com a ideia de ser usado por alunos fazendo experimentos.
O meu telefone possui diversos sensores. Um sensor muito comum em praticamente todo aparelho é o sensor de luz ambiente. O telefone usa essa informação para regular automaticamente o brilho da tela. Além disso, todo telefone possui um microfone (afinal, originalmente as pessoas falavam umas com as outras usando o telefone). O nível de volume e a frequência dos sons chegando ao microfone podem ser acessados e usados em observações. Como todo telefone possui um GPS para a sua localização,
COMO FUNCIONA
Instale o aplicativo Google Science Journal no seu telefone. Ele está disponível para aparelhos com o sistema Android ou da Apple. Ao abrir o aplicativo, você pode criar um novo experimento, usando o botão com o sinal de +. Você pode inserir uma descrição do experimento, como os detalhes do que você está medindo. Isso é muito importante, pois é fácil esquecer qual foi a concentração do reagente usado ou o que você queria medir, e os resultados não vão te dizer isso. Esse é um hábito importante e que deve ser estimulado nos alunos. Além da descrição por texto, você pode também tirar fotos que ficarão ligadas àquele experimento.
Selecione um sensor clicando no ícone com uma bola com uma onda no interior e clicando em um dos ícones que aparecem na barra azul.
Assim que você escolhe um sensor, um gráfico aparece mostrando os valores lidos, em tempo real, ao longo do tempo. Um valor numérico também é mostrado. Você pode apenas observar os resultados ou iniciar a gravação dos dados (clicando no botão vermelho). Ao gravar os dados o aplicativo salva o experimento dentro de uma pasta Science Journal no Google Drive. Assim, os dados podem ser compartilhados com outras pessoas (do mesmo grupo de alunos ou com o professor).
MEDINDO O MUNDO AO SEU REDOR
As possibilidades de utilização do aplicativo são inúmeras. O site do aplicativo oferece uma coleção de experimentos. Na Física os sensores de movimento permitem uma enorme possibilidade de atividades. Como o sensor está no celular, um dispositivo móvel, é possível medir o movimento colocando o celular em um carrinho, no seu bolso enquanto você dá uma corrida, transformar o celular em um pêndulo ou prendê-lo em uma mola.
Na Química, é possível usar o sensor de luz como um colorímetro e estudar como a intensidade da cor de um corante alimentício, por exemplo, varia com a concentração. Ou é possível usar o mesmo sensor de luz e avaliar a turbidez de uma amostra de água. Fizemos um rápido experimento colocando algumas gotas de um corante alimentício vermelho em água e medindo a luz que atravessava a solução. Ao adicionarmos um pouco de água sanitária, pudemos acompanhar a reação à medida que o corante vai sendo transformado em produtos incolores. Assim, é possível medir a velocidade de uma reação química e estudar como ela pode ser modificada, por exemplo, pela concentração dos reagentes, a temperatura, ou a presença de um catalisador.
FINALMENTES
Tem muito mais para ser explorado com o Google Science Journal, mas eu quis dar uma rápida introdução para que os interessados possam conhecê-lo e começar a usar. Uma possibilidade muito interessante é a capacidade do programa de servir de interface para sensores externos, ligados por exemplo a uma placa arduino. Mas isso fica pra um próximo artigo.
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2 comentários
Achei bem interessante, principalmente o de quimica. vou dar uma explorada no app.
Muito interessante.